Mirdad Fala de Amor & O Papel da Mulher como Ser Cósmico
"Mirdad fala do homem e da mulher, do casamento e do celibato daquele que se libertou".('O Livro de Mirdad', cap. 22).
Mirdad: "Naronda, minha fiel memória! Que te dizem estes lírios?"
Naronda [Escriba da Arca]: Nada que eu possa ouvir, meu Mestre.
Mirdad: Eu os ouço dizer: "Amamos Naronda e com satisfação lhe oferecemos nossas fragrantes almas como prova de nosso Amor". Que te dizem as águas deste tanque?
Naronda: Nada que eu possa ouvir, meu Mestre.
Mirdad: Eu as ouço dizer: "Amamos Naronda, por isso saciamos-lhe a sêde e a sêde de seus amados lírios". Naronda meu olho vigilante! Que te diz este dia, com todas as coisas que ele carinhosamente embala em seus braços ensolarados?
Naronda: Nada que eu possa ouvir, meu Mestre.
Mirdad: Eu o ouço dizer: "Eu amo Naronda, por isso o embalo carinhosamente em meus braços ensolarados, juntamente com o restante de minha amada Família".
Com todas estas coisas para amar e ser por elas amado, não tem Naronda a vida bastante cheia, sem lugar para que sonhos vãos e pensamentos fúteis nela façam ninho e se ponham a chocar?
Em verdade vos digo que o Homem é o bem amado do Universo. Todas as coisas se alegram em mimá-lo. Mas raros são os homens que não ficam enfatuados com esses mimos, e mais raros ainda aqueles que não mordem a mão que os acaricia.
Para quem não é enfatuado, até a picada da serpente é um beijo de amor. Mas para o enfatuado, até um beijo de amor é picada de serpente... Não é assim Zamora?
Naronda: Assim ia o Mestre dizendo enquanto ele, Zamora [harpista da Arca] e eu, numa tarde ensolarada,regávamos alguns canteiros de flores no jardim da Arca. Zamora, que durante o tempo todo se conservava distraído, abatido e deprimido, foi tomado de improviso pela pergunta do Mestre.
Zamora: O que o Mestre diz é sempre verdade e isso deve ser verdadeiro.
Mirdad: Não é verdade no teu caso, Zamora? Não foste tu envenenado por muitos beijos de amor? Não estás agora torturado pela recordação do teu amor envenenado?
Zamora: (Atirando-se aos pés do Mestre, enquanto as lágrimas lhe brotavam dos olhos). Oh, Mestre! Que infantilidade a minha, ou de qualquer homem, em tentar esconder dos vossos olhos, mesmo nas profundezas do coração, um segredo!
Mirdad: (Enquanto fazia Zamora levantar-se). Como é infantil tentar escondê-lo até mesmo destes lírios!
Zamora: Sei que meu coração ainda não é puro, porque os sonhos que tive esta noite foram impuros.
Hoje vou esvaziar me coração. Vou pô-lo nu diante de vós meu Mestre; diante de Naronda, diante destes lírios e das minhocas que rastejam pelas suas raízes. Preciso depor a carga de um segredo que me pesa na alma. Que esta brisa a carregue para todas as criaturas deste mundo.
Na minha mocidade amei uma jovem. Era mais linda que a estrela da manhã. Seu nome era mais doce à minha língua do que o sono às minhas pálpebras...
Quando nos falastes da oração e da corrente sanguínea, eu fui o primeiro a beber a substância curativa de vossas palavras, pois o amor de Hoglah - era esse o seu nome -, dirigia o meu sangue, e bem sei o que pode fazer um sangue assim dirigido.
Com o amor de Hoglah a eternidade era minha. Eu a usava como um anel de casamento. E a própria Morte eu vestia como se fosse uma cota-de-malha. Eu me sentia mais idoso do que todos os ontens e mais jovem do que o último amanhã que estiver para nascer. Meus braços sustentavam os céus e meu pés impeliam a Terra. No meu coração brilhavam inúmeros sóis...
Mas Hoglah morreu, e Zamora, a fenix flamejante, transformou-se em um monte de cinzas frias e sem vida, das quais nenhuma fenix renasceu. Zamora, o leão destemido, tornou-se um coelho assustadiço. Zamora, a coluna do céu, tornou-se as miseráveis ruínas de um naufrágio, escalhadas em uma lagoa de águas pútridas.
Procurei salvar o que pude de Zamora e parti para esta Arca esperando enterrar-me vivo nas suas recordações e sombras diluvianas. Tive a sorte de chegar aqui exatamente quando um companheiro havia partido deste mundo e fui admitido...
[Nota: A tradição divina da Arca estabelecia o número sagrado de nove pessoas - nunca seria nem mais nem menos que nove. Quando um falecia, Deus escolhia outro para substituí-lo. Assim, o primeiro que chegasse pedindo asilo na Arca devia ser aceito de imediato, pois ele fôra até ali encaminhado pela Providência].
Durante quinze anos os companheiros desta Arca viram e ouviram Zamora, mas do segredo de Zamora jamais souberam ou ouviram. Pode ser que as velhas paredes e os sombrios corredores da Arca não o ignorem.
Pode ser que as árvores, as flores e os pássaros deste jardim dele saibam algo. Mas certamente as cordas da minha harpa vos poderão contar muito mais, ó Mestre, a respeito da minha Hoglah, do que eu próprio.
Exatamente quando as vossas palavras principiam a aquecer e agitar as cinzas de Zamora e percebo o nascer de um novo Zamora, Hoglah visita-me em sonhos, faz-me ferver o sangue e atira-me aos sombrios despenhadeiros da realidade atual - uma tocha queimada, um êxtase nascido morto, um monte de cinzas frias... Ah! Hoglah, Hoglah!
Perdoa-me, Mestre. Não posso reter as lágrimas. Que mais pode a carne ser, senão carne? Tende piedade da minha carne. Tende piedade de Zamora...
Mirdad: A própria piedade necessita de piedade. Mirdad não a tem. Mas Amor Mirdad tem em abundância por todas as coisas, mesmo pela carne; e mais ainda pelo Espírito que toma a forma grosseira da carne unicamente para nela suprir a sua própria falta de forma.
E o Amor de Mirdad levantará Zamora de suas cinzas e fará dele 'O que se libertou' - eis o que eu prego - o Homem unificado e mestre de si mesmo.
O homem aprisionado ao amor de uma mulher e a mulher aprisionada ao amor de um homem, são ambos incapazes de obter a preciosa coroa da Liberdade. Mas o homem e a mulher tornados um só pelo Amor, inseparáveis e indistinguíveis, estão realmente qualificados para o prêmio.
Não é Amor, o amor que subjuga o amante. Não é Amor, o amor que se alimenta de carne e sangue. Não é Amor, o amor que atrai a mulher para o homem somente para por no mundo mais homens e mais mulheres, e assim perpetuarem sua escravidão à carne.
Eu prego 'O que se libertou' - o Homem Fenix, que é demasiado livre para ser um macho e muito sublimado para ser uma fêmea...
Assim como nas esferas mais densas da Vida o macho e a fêmea são Um, assim são eles Um nas esferas menos densas da Vida. O intervalo entre as duas esferas não é mais do que um segmento da eternidade, dominado pela ilusão da Dualidade...
Aqueles que não podem ver nem para diante nem para trás, julgam que este segmento da eternidade é a própria Eternidade. Agarram-se à ilusão da Dualidade como se fosse esta o núcleo e a essência da própria Vida, ignorando que a lei da Vida é a Unidade.
A Dualidade é uma etapa no Tempo. Como procede da Unidade, à unidade se dirige. Quanto mais rapidamente atravessardes esta etapa, mais cedo abraçareis a vossa liberdade...
E que são o homem e a mulher senão o Homem Uno, ainda inconsciente de sua unidade, dividido em dois para sorver o fel da Dualidade, para que almeje o nectar da Unidade e para que, almejando-o, o procure com ânsia e, procurando-o, o encontre e o possua, consciente de que ele ultrapassa a liberdade?
Deixai que o cavalo relinche para a égua e a gazela chame pelo cervo. A própria Natureza os estimula a isso e os abençoa e aprova, pois não são conscientes de nenhum destino superior, além da auto-reprodução.
Deixai o homem e a mulher que ainda não estão muito longe do cavalo e da égua, do cervo e da gazela, buscarem-se mutuamente nas trevas da separação da carne. Deixai-os misturar a licenciosidade da alcova com a licença do nó matrimonial.
Deixai-os alegrarem-se com a fertilidade dos corpos e a fecundidade do ventre. Deixai-os propagar a espécie. A própria Natureza será oficiante de suas núpcias e parteira; a própria Natureza preparará para eles leitos de rosas, sem esquecer-se dos espinhos.
Mas os homens e mulheres precisam realizar a sua união ainda enquanto estiverem na carne; não pela comunhão da carne, mas pela Vontade de se libertarem da carne e de todos os impedimentos que esta coloca em seu caminho para a perfeita Unidade e a Sagrada Compreensão...
Frequentemente ouvis os homens falarem em "natureza humana", como se esta fosse um elemento rígido, bem medido, bem definido, exaustivamente explorado e firmemente escorado por todos os lados por algo que eles denominam Sexo.
A natureza humana é satisfazer as paixões do sexo. Só o tentar por um freio aos seus acessos turbulentos ou empregar meios para superar o sexo é decididamente ir conta a 'natureza humana' e sofrer as consequências. Assim dizem os homens. Não deis ouvidos a essa tagarelice.
Muito complexo é o Homem e imponderável a sua natureza. Mui variados são os seus talentos e inexauríveis a sua energia. Cuidado com aqueles que o querem encerrar entre muros.
A carne sem dúvida impõe ao Homem um pesado tributo. Mas ele o paga somente durante certo tempo. Quem de entre vós quereria ser vassalo da carne por toda a eternidade? Qual o vassalo que não sonha em sacudir dos ombros o jugo do príncipe que o oprime e assim libertar-se de pagar o tributo?
O Homem não nasceu para ser vassalo, nem mesmo de sua natureza humana. E o Homem está sempre almejando libertar-se toda e qualquer vassalagem. E certamente possuirá a Liberdade.
Que são os elos do sangue para aquele que deseja libertar-se? Uma cadeia [um grilhão] que terá se ser quebrada com uma vontade.
'O que se libertou', sente o seu sangue relacionado com todo sangue. Consequentemente não está preso a nenhum.
Deixai a propagação da raça para aqueles que nada almejam. Os que almejam têm outra raça para propagar: a raça dos que se libertaram. A raça dos que se libertaram não descende do ventre. Ao contrário, ascende de corações celibatários cujo sangue é dirigido por uma vontade inflexível de se libertar...
Sei que vós, e muitos como nós pelo mundo afora, têm feito votos de celibato. No entanto, longe estais de ser celibatários, como testifica o sonho de Zamora na noite passada.
Não é celibatário aquele que usa trajes eclesiásticos e que se encerra por trás de grossas paredes e reforçados portões de ferro. Muitos frades e freiras são mais lascivos do que o mais lascivo dos homens e a mais lasciva das mulheres, embora possam jurar - sem mentir - que jamais hajam tido contacto com outra carne.
Celibatários são aqueles cujos corações e mentes são celibatários, quer estejam encerrados em mosteiros ou vagueim nos mercados...
Venerai, meus Companheiros a Mulher e santificai-a. Não no papel de mãe da raça, nem como esposa ou amante, porém como gêmea do homem e sua sócia, cota por cota, na longa fadiga e sofrimento da vida dualística, pois sem ela não pode o homem atravessar o segmento da Dualidade. Somente nela, ele encontrará sua Unidade, e nele encontrará ela sua libertação da Dualidade. E os gêmeos serão a seu tempo reunidos em Um - 'O que se libertou' -, que não é masculino nem feminino: o Homem Perfeito.
O que se libertou - eis o que prego; o Homem unificado e mestre de si mesmo. E cada um de vós será um dos que se libertaram, antes que Mirdad se retire de entre vós...
Zamora: Entristece-me o coração ouvir-vos falar em nos deixar. Se chegar o dia em que vos procurarmos e não vos acharmos, Zamora porá fim ao seu alento...
Mirdad: Tu podes querer muitas coisas Zamora - podes querer todas as coisas. Mas há uma coisa que não podes querer: por fim à tua vontade, que é a vontade da Vida, que é a Vontade Total. Pois a Vida, que é Ser, jamais pode querer o seu não-ser; nem pode o não-ser ter vontade. Não. Nem mesmo Deus pode acabar com Zamora.
Quanto a eu deixar-vos, o dia certamente chegará em que me procurareis na carne e não me achareis, pois tenho trabalho a fazer noutros lugares, além do que estou fazendo nesta Terra. E em nenhum lugar deixo meu trabalho por fazer.
Alegrai-vos, portanto. Mirdad não vos deixará enquanto não houver feito de vós os que se libertaram - homens unificados e perfeitos mestres de si mesmos.
E quando fordes mestres de vós próprios e houverdes atingido a Unidade, então encontrareis Mirdad como o constante morador em vossos corações e o seu nome jamais se oxidará em vossa memória.
"Assim ensinei a Noé. Assim agora eu vos ensino"... [Extraído de 'O Livro de Mirdad - Um Farol e um Refúgio', p. 13l/137. Mikhail Naimy, 1a. Edição. 1965 (*). Editora Rosacruz-Áurea].
(*) Em 1965, acordei de madrugada com a percepção clara do Grande Trabalho em prol da libertação da humanidade, iniciado na aurora dos tempos, que persistirá até que o último ser humano alcance a libertação de Consciência Divina dentro de si mesmo. Dessa Grande Obra, participaram avatares, grandes mensageiros no passado, mas haver também obreiros de diversificados níveis de consciência, que trabalham ainda hoje em sintonia com esse mesmo Propósito...
E, embora cônscio de minha limitação e cegueira humanas, fiz profunda oração no sentido de que, se fosse possível, queria participar de algum segmento desse imenso trabalho espiritual... Às sete horas daquela manhã, um companheiro de jornada veio me procurar dizendo que precisava de quem o ajudasse na revisão da tradução do inglês e preparação tipográfica para a primeira edição no Brasil, de 'O Livro de Mirdad', através da Rosacruz-Áurea, da qual éramos então alunos.
Desconhecia o livro e pedi para ver algo da tradução, e ele me deu o rascunho do capítulo 11, em que Mirdad dizia: "O Amor é a Lei de Deus. Viveis para aprender a amar. Amais para aprender a viver. Nenhuma outra lição é exigida do Homem"... Essas palavras repercutiram fundo no coração e meus olhos se encheram de lágrimas. Soube de imediato ser resposta àquela prece; aprendi a fazer revisão tipográfica e foi a primeira obra, entre várias outras da Escola Internacional da Rosacruz Áurea no Brasil, de que participei da revisão e publicação em São Paulo, entre 1965 e 1982.
Jamais imaginaria então que eventos inesperados me afastariam desse aprendizado para ampliar a compreensão através de outro tipo de experiências profundas, consteladas pelo Ser interior ('Self'), estudo da psicologia junguiana, iniciar o contato direto com o reino angélico, e aplicar tudo o que aprendera para divulgar o trabalho dos Anjos, aqui e agora, nestes bloggers... Nada acontece ao acaso em nossas vidas! (Campos de Raphael).
Click nos Anjinhos e conheça tb.:
Luz, Amor e Paz! (Campos de Raphael).
[Março, 27.2015. Rio das Ostras/Rio de Janeiro. ].
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